Raciocínio Dedutivo vs Indutivo

O raciocínio é um processo de pensamento sistemático que deriva uma conclusão a partir de percepções, pensamentos ou afirmações (Johnson-Laird, 1999). Assim, o raciocínio informa a resolução de problemas e a tomada de decisão (Vo & Casapó, 2020). Alguns autores afirmam que os processos evolutivos podem ter selecionado dois tipos principais de raciocínio (Jung, 2014): 1) um processo do qual os indivíduos estão cientes e 2) outro do qual eles quase não têm consciência (Johnson-Laird, 1999).
Raciocínio Dedutivo vs Indutivo

Jung (2014) propõe que esses sistemas cognitivos podem ser equiparados a mecanismos neurais hipotéticos: o raciocínio dedutivo provavelmente depende do conhecimento explícito ou consciente, enquanto a improvisação (aqui mais associada ao raciocínio indutivo) pode depender mais de sistemas de conhecimento implícitos ou inconscientes (Helie and Sun, 2010).

A interação de sistemas explícitos e implícitos pode ser vista como formando uma base adaptativa e eficaz para a solução de problemas, em um mundo onde as pessoas têm que resolver tanto problemas comuns como novos (Jung, 2014).

O raciocínio dedutivo, o que pode ser chamado de "inteligência dedicada", refere-se à capacidade de resolver problemas predefinidos que muitas vezes envolvem regras bem estabelecidas (Cosmides e Tooby, 2002) e modelos (Johnson-Laird, 1999) - como aprender a tocar um instrumento, resolver um quebra-cabeça ou muitas das tarefas de nossa vida cotidiana, como fazer a lista de compras. De um modo geral, essas tarefas são baseadas em regras e são determinísticas (Jung, 2014). Outra forma de explicar isso seria “a teoria leva à prática”, onde o conhecimento dos princípios teóricos é aplicado corretamente para resolver problemas.

O raciocínio indutivo, que pode ser chamado de "inteligência improvisada", aborda a capacidade de improvisar soluções para novos problemas (Cosmides e Tooby, 2002) com contingências que podem ou não se repetir em diferentes circunstâncias - como descobrir como entrar em sua casa tendo trancado suas chaves dentro (Jung, 2014).

Esses dois tipos de raciocínio podem ser aplicados na resolução de um mesmo problema. Tomemos como exemplo o desafio de montar um móvel de uma determinada marca sueca: 

- O raciocínio dedutivo é a sua capacidade de olhar para as instruções, interpretá-las e implementá-las corretamente.
- O raciocínio indutivo é a sua capacidade de descobrir como montar os referidos móveis sem instruções.

Ambos os tipos de raciocínio são diferentes e se complementam: nenhum é necessariamente “melhor” que o outro.

 

Sobre a autora

Helena Martins é Investigadora e Professora na área de Gestão de Recursos Humanos. Se formou na área de Psicologia e de Gestão e atualmente leciona em Lisboa, Portugal. Seus interesses de pesquisa e ensino são o desenvolvimento de competências sociais para situações de crise e mudança, onde uma avaliação psicológica sólida é a chave como ponto de partida para intervenções eficazes.

ORCID / Research Gate / Ciência Vitae

 

Referências:

Johnson-Laird, P. (1999). Deductive reasoning. Annual Review of Psychology, 50, 109-135.

Vo, D & Casapó, B. (2020). Development of inductive reasoning in students across school grade levels. Thinking Skills and Creativity, 37, 100699

Jung, R. (2014). Evolution, creativity, intelligence, and madness: “Here Be Dragons”. Frontiers in Psychology, 5(784) 1-3. doi: 10.3389/fpsyg.2014.0078

Helie, S., and Sun, R. (2010). Incubation, insight, and creative problem solving: a unified theory and a connectionist model. Psychol. Rev. 117, 994–1024. doi: 10.1037/a0019532

Cosmides, L., and Tooby, J. (2002). Unraveling the enigma of human intelligence: evolutionary psychology and the multimodular mind. in R. J. Sternberg and J. C. Kaufman(Eds) The Evolution of Intelligence, 145–198. Mahwah, NJ: Erlbaum

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